quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Dói saber que intenções nem sempre são válidas. Querer ser uma pessoa melhor a cada dia não me faz efetivamente ser uma pessoa melhor. Querer esbanjar sorrisos verdadeiros e marcar a vida das pessoas não é suficiente pra que eu saia de um estado de solidão conformada e tediosa.
Não basta que eu prometa todo dia que amanhã vou agir diferente, que amanhã vou me livrar do peso de não estar bem pra ninguém, que amanhã vou me livrar das amarras e vou me permitir conviver. Minhas promessas não ultrapassam a primeira esquina, esbarram no medo e na falta de ânimo e me provam que ter intenção de mudar não me faz realmente mudar.
E acabo sempre na certeza que esse ditado tão difundido e aceito por todos de que 'querer é poder' não se encaixa pra mim. Vivo afogada em medos tantos e bloqueada por contradições tamanhas que me resigno a sobreviver e aceitar. E se tenho intenções de mudar elas não passam de planos e vontades.
Boas intenções não me faltam, é tanto querer ser melhor limitado a apenas querer. Porque eu queria agir ao invés de reclamar, tentar ao invés de me conformar e me aproximar ao invés de me distanciar. Mas tudo que consigo é me anular diante de possibilidades que me parecem tão ilusórias e dos medos que me fazem tão pequena. Porque eu queria enfrentar ao invés de evitar, seja pessoas, fatos, problemas ou obstáculos. Queria ter algo a acrescentar a vida de quem passa por mim. Queria reverter essa minha desistência do mundo, das pessoas e de tudo. Mas sequer consigo sair dessa minha inércia conformada.
Não adianta querer ser diferente, querer sorrir para o mundo e querer estar aberta a novos relacionamentos ao invés de evitá-los. Preciso abandonar essa minha tendência doentia de enxergar só o lado negro das pessoas. Preciso desfazer essa minha visão míope que insiste em evidenciar os defeitos alheios. Tenho que aprender a dosar, mas isso requer muito mais que vontade. 
Preciso abandonar todo peso que carrego. Conviver me esgota porque eu tenho uma quase obrigação em agradar a todos que acabo desistindo e optando pelo ócio da solidão.
Tem tanto desejo reprimido aqui dentro que vivo remoendo um ontem jamais resolvido. Tem tanta impotência diante de tudo e uma vontade louca de deixar de me anular para o mundo e de deixar de me guardar sempre pra amanhã. Tem tanta intenção de mudar, de ser melhor para o mundo, de ser melhor pra mim. Mas de que adiantam intenções se tropeço nos meus próprios medos, se me limito a uma eterna e inútil guerra interna sem resultados concretos.
Deixo sempre pra amanhã, pra um amanhã que nunca chega. E deixar sempre pra depois é assumir um auto abandono marcado de tédio, é viver a mercê da própria inutilidade, é ser figurante na peça da sua própria vida.
Quero mudar mas me afundo no meu próprio caos. E ninguém percebe o meu esforço diário pra ser uma pessoa melhor. Ninguém é reconhecido ou valorizado por querer ser melhor. Afinal, intenções nem sempre definem o que somos. E no meu caso, não existe afirmação mais sensata que essa. Ter as intenções melhores possíveis nunca me fez chegar onde queria, e sequer me fez atingir o melhor que eu sempre quis ser. Mas quem sabe amanhã eu consiga mudar.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Preciso tanto aproveitar você

Preparei o meu melhor sorriso para me encontrar com você essa noite. Planejei os detalhes minuciosamente daquele que seria o nosso melhor encontro. O primeiro entre tantos outros que certamente viriam não fosse essa minha tendência contrária de agir. Planejei risos espontâneos, diálogos interessantes, planejei tanta intensidade, planejei ser tudo que sempre quis ser e nunca fui. Queria fazer valer cada segundo ao seu lado. Queria deixar de me afogar em medos tantos que sempre me levam a atitudes tão vazias de mim.
Tanto tempo já me foi levado, e olhando o avesso dos ponteiros não consigo enxergar nada além dessa névoa escura. De todos os nossos "estar juntos" só me restam lembranças vagas. Resta-me o vácuo inconfortável de um tormento que assisto de longe.
Tantos foram os momentos que me "escaparam" entre os dedos sem que eu pudesse tirar deles algum proveito. Tanto desejo contido, tanta vida não dividida, tanto silêncio ocultando verdades, verdades que queriam ser ditas, que queriam ser compartilhadas. Tantas lacunas no tempo denunciando uma vida não vivida e trazendo uma angústia incômoda pra dentro de mim .
Decido então mudar, mais uma vez. E mudar, por mais estranho que te possa parecer, significa ser eu mesma. Significa expressar-me naturalmente sem ficar presa nessa preocupação ridícula que tenho de te desapontar, de não ser suficiente.
Sou limitada e não consigo sequer ser autêntica. Guardo toda minha intensidade, por medo do que possam pensar, e acabo assim, não sendo. Ensaio tanto ser eu mesma e nem assim consigo. Consigo ser esse oposto sem vida, esse vazio sem juventude. Consigo ser essa rotina medíocre enquanto dentro de mim sou toda intensidade. Contraditória que sou, condeno todas essas minhas atitudes óbvias e não consigo ao menos agir diferente.
Sequer me atrevo a surpreender-te com minha espontaneidade guardada. Tudo pelo medo de ganhar teu estranhamento. Em vez disso, me perco a calcular e editar minhas formas, a esconder minhas fraquezas e a tentar parecer sempre perfeita. Hesito a render-me as minhas próprias vontades por medo da impressão que te possam causar. E por me sentir por vezes indesejável, me afasto.
Tudo em mim é desejo contido, não consumado, é renúncia. Me fere esse auto abandono que assumo diante dos medos que me invadem.
Me mutilo por não saber discernir a intensidade que te agrada. Em silêncio sinto-me insuportável. Se me atrevo a reverter minha mudez temo o risco de parecer tola.
E assim, entre tantos medos e mortes, fico com meu riso guardado, afogado nesse meu desespero que é ver os minutos virando 'passado' e me roubando toda e qualquer possibilidade de me assumir por completo. Fico todo o tempo medindo a melhor forma de agir pra não te desapontar, para não expor minhas fraquezas, para não te sufocar e acabo sempre eu sufocada nessa inércia que me consome. Passo mais tempo pensando em o que fazer e como fazer do que agindo. Sempre tão previsível, tudo tão calculado, mas sem bases reais.
Meu reflexo no espelho revela o quanto minhas tentativas de me habitar têm sido inúteis. Mas o que tenho feito além de desviar meus olhos pra não enxergar minha imagem sem formas? Prometo mudar todo dia, mas falho nas promessas que faço. Elas se perdem entre meus pensamentos cujo exagero foge do limite sádio.

Pelo medo de desagradar, te ofereço pedaços que não são meus e o que é meu fica contido. É que me parece sempre mais interessante o alheio.
Neutralizo meus impulsos mais verdadeiros e me sinto, assim tão incompleta.
Já se foi tanta chance desperdiçada de ser "eu" mesma, que acabo sempre na saudade de tudo que jamais aconteceu, de tudo que não passa das minhas fantasias diárias. Queria ser mais pra você, queria marcar cada instante do seu dia, mas sempre acabo abandonando as minhas vontades.
Preciso tanto aproveitar você, aproveitar o teu riso fácil pra me distrair, aproveitar a tua companhia que é tão doce. Preciso me livrar dessa auto-opressão pra poder respirar quando estamos juntos, pra deixar um pouco mais de mim em cada beijo, em cada instante.
É urgência, necessidade extrema. Necessito desfazer essa distância que nos agride, preencher esses silêncios que me sufocam. Quero arrancar essas algemas que não me deixam ser nada além do previsível. Quero
abraçar sem pedir permissão, me aproximar sem me sentir intrusiva, quero deixar de ser limitada.
Preciso coragem pra te ligar no outro dia sem ser atormentada por pensamentos tantos que sempre me travam, que me fazem sentir sempre inconveniente, sempre indesejável. Preciso coragem pra exigir atenção sem temer ser incômoda, sem temer uma resposta fria. Coragem pra me permitir aos excessos do meu peito sem me sentir ridiculamente estranha, ridiculamente pequena. Coragem pra dividir meus desejos, meus medos e fraquezas sem achá-los tolos demais, importunos demais.
Quero permitir-me errar sem essa preocupação tola de ser rejeitada por isso. Como se do amor para o desamor bastasse apenas um estalar de dedos contrário. Tão superficial, tão efêmero.
Preciso acreditar que minha presença não te sufoca. Preciso coragem pra me assumir por completo e abandonar esse desespero de não agradar. Preciso aprender a me amar pra me livrar desse meu medo de ser natural.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Contraditória que sou, odeio toda essa gente repetitiva que leva uma vida sem sal e não consigo sequer agir diferente.


"E, ela permanecia assim, estática, como quem espera a vida mudar pra começar a viver. Não entendia, até então, que o futuro se faz do agora, o amanhã depende do hoje. E foi após muito pranto que ela percebeu que pra vida mudar agir diferente é fundamental".

quarta-feira, 30 de setembro de 2009


Mania essa que as pessoas têm

Dia desses minha maninha veio mostrar desenho bonito que fez, e nosso pai pareceu nem se importar. Pouco depois, ela veio com outro desenho. Seus olhos brilhantes de orgulho se desmancharam em lágrimas quando ele resmungou não ter tempo pra coisas tolas.
"Papai é um ho
mem sério, e homens sérios são muito ocupados pra perderem tempo com coisas sem importância", ela me disse.
Pensei então: "mania essa que as pessoas têm de andar sempre apressadas". Não consigo entender porque correm tanto em busca de vida melhor se acabam por perder o melhor da vida.

Outro dia maninha
trouxe o boletim da escola. E apressado, nosso pai viu num estalo as notas vermelhas. A melhor aluna da sala agora tinha em mãos um boletim colorido. Então a professora queria perguntar o que estava acontecendo na reunião com os pais. Mas nem um dos dois estiveram presentes. Estavam muito ocupados com assuntos sérios.
Então criticaram maninha e a deixaram de castigo. Mania essa que as pessoas têm de só criticar. Já não se tem mais tempo pra elogios. Estão todos muito ocupados com coisas sérias.
E eu?
Maninha me sorriu um dia desses, mas nem lhe dei atenção.
Também estou muito ocupada com coisas sérias. Herança maldita essa que herdei de papai e mamãe, essa mania de andar sempre com pressa. E me parece que não é mal de família. Esse mal já impregnou todo o planeta. Nota-se pela superficialidade das relações, pela frieza de um "bom dia" trocado. Gente que se esbarra nessa multidão acelerada e nem sequer se nota. Gente que, por vezes, se pisa e nem se importa. Gente que se estranha por motivos fúteis.
Tanta gente que deixou a alegria de lado e nem se deu conta e que, ainda assim, aplaude de pé esse mundo de posses. Mundo vazio, visões corrompidas. Gente que corre e nem sabe onde vai. Tanta gente perdida nessa rotina corrida.
Mas tá todo mundo muito ocupado pra perceber que andar sempre com pressa é perder-se. Abraços e beijos ficaram esquecidos nesse mundo que anda às pressas. Já não há mais tempo pra afetos. Estes ficaram perdidos entre os atropelos da vida. É a geração de crianças carentes apesar de morarem com os pais.
Anah F.S.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009


Eu também estou aqui:

http://entrelinhasfragmentadas.blogspot.com/


f-r-a-g-m-e-n-t-a-d-a

entre flores
[e espinhos]

Um cantinho aos pedaços

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Quando estamos juntos, chego a passar mais tempo imaginando a distância que existe entre a gente do que tentando me aproximar. Vejo um abismo enorme nos separando e insisto em fazê-lo visível a você. Outras vezes tento escondê-lo o melhor que posso pelo medo que tenho de te perder.
Então, esses medos que tenho, ora de te ter, ora de te perder, tornam-me prisioneira de mim mesma e mutilam qualquer impulso meu de estar feliz ao seu lado. Como sustentar uma felicidade de mentira se aqui dentro meu coração grita em desespero.
Esse querer forçosamente estar junto, seguido pelo temor de ser uma companhia desagradável, me limita tanto. Quem não confia sequer que pode ser o melhor na vida de alguém, jamais acreditará que essa pessoa deseje sinceramente estar junto sempre. E, esse impasse inibe qualquer demonstração minha de carinho e atenção. Tão logo, o abismo, visível aos meus olhos, fica ainda maior. Ser todo amor pra quem é apenas vazio cansa, e você certamente vai cansar.
E me restam apenas, em flashs ligeiros na mente, recordações frias de nossos momentos juntos. Resta-me apenas uma certeza doída de que todo momento foi em vão e uma saudade mórbida de tudo que nunca chegou a existir. A minha imagem ao teu lado, sempre tão opaca, só me confirma o que eu sempre soube. Somos tão distantes, apesar de abraçados.


Anah F.S.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009


"E quem a via com esse riso fácil e distraído, sorrindo pra tudo e pra todos e com o coração saltitando na boca a todo momento, julgava-a boba e insana, mal sabia a felicidade que lhe explodia o peito depois de tantos dias negros-doídos".

Espero que me venha esses dias bonitos
Anah F.S.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Não lhe doíam as bolhas nas solas dos pés, sequer os sapatos gastos causavam-lhe qualquer incômodo. O que realmente doía era uma cruel impressão de vácuo. Doía-lhe o cansaço acompanhado de angústia pela certeza de que todos os passos dados foram em vão.[...]
Mas, essa manhã acordou diferente. Acordou com sorriso que lhe saltava os olhos e fazia enxergar colorido. Acordou poeta de versos alegres, numa vontade doida de fazer poesia feliz.
Sentia uma melodia contagiante amenizar suas dores. Era seu coração que pulsava em ritmo acelerado, por puro entusiasmo.
Via-se rodeada por uma imensidão de possibilidades que sorriam-lhe diante dos olhos. Tais olhos que não mais enxergavam limites. À tempos não perdia-se entre sonhos tantos.
Então pés descalços, esperança renovada, decidiu recomeçar a caminhada e não mais deixar-se guiar por medos tolos. Escolheu enfim, ousadia.
[...]
Mas, acabou com um riso em descompasso, inundado por lágrimas que ainda caíam num misto de esperança e dor. Era um restinho de choro que ainda teimava em ficar porque sobrava o medo dessa manhã bonita passar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009


"Essa sensação de doer antes da queda é por causa desse meu medo constante de cair. E é por causa dele que, quase sempre, acabo caindo".
Anah. F.S.


terça-feira, 8 de setembro de 2009



"Eu ando assim, com um medo sufocante de me perder fora de mim. Tudo porque minhas atitudes dificilmente correspondem com a essência que trago aqui dentro. Sinto falta de mim nos meus atos, no meu riso, no meu andar e não há nada mais dolorido que minhas [quase] tentativas de vida".

Anah F.S.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"E volta menina querendo brincar de ser feliz".

É tarde de sol. Sinto, então, um clarão nos olhos, um calor no peito e uma doce sensação se aproximar. E é nesse clima agradável, que, ligeira, 'ela' me invade e toma conta de mim.
Começo então, a desejar forçosamente que fique, que não me abandone outra vez mais, porque é sempre mais frio e escuro quando 'ela' fica distante.
De súbito, o amarelo vivo do sol, o azul infinito do céu impregna em minha pele, dissolve meu cansaço, apaga da minha memória todo sofrer que já vivi.
E tão logo, um fiasco de sorriso no canto dos lábios torna meu semblante menos apático, um brilho mudado nos olhos torna minha visão mais colorida.
Chego a pensar na alma criança que tenho. Esqueço as dores sem demora quando, pequena, 'ela' me invade o coração.
Em dias assim, mais azuis, ela sempre volta. E sussurra bem baixinho aos meus ouvidos: "acredite". E eu acredito. Basta vê-la voltando mansinha.
E procuro manter meu riso aberto de 'canto a canto', como quem se esforça pra estender esse momento pela eternidade. No entanto, por mais que eu me empenhe, tem vezes que 'ela' se distancia, e nesses dias, tudo é tão cinza.
Desejo então mais uma tarde assim, azul amarelada. Espero rever esse misto de cores. O azul do céu, o amarelo do sol, juntos, formando um verde bonito, um verde tão 'ela', o verde 'esperança'.
E que 'ela' volte, espero. Que volte pra ficar. Porque é sempre vazio quando 'ela' some. E repito: "...porque é sempre mais frio e escuro quando 'ela' [a esperança] fica distante".



E 'ela' volta menina
um tanto travessa,
planejando um bonito porvir.
Volta teimando em me fazer feliz".


Anah F.S.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Um sonho, apenas [...]

Não era uma manhã como as outras. Era nítido de se perceber só de olhar nos olhos daquela garota. Ela estava a sorrir logo cedo, o que lhe causou certo espanto: "Pudera eu ter manhãs como estas, todos os dias", pensou com um sorriso largo a enfeitar seu rosto.

Saiu então pelas ruas a caminhar. Andava sem se importar com os olhares alheios, e então [pela primeira vez] sentia-se nos seus passos.
Passos firmes, a cabeça erguida [o coração pulsando]. Era a liberdade que lhe explodia o peito. Era seu riso fácil e espontâneo que lhe fazia caminhar levemente.
Já não importava mais um passado de sombras, já não havia temor. O medo, companheiro sempre presente, havia se dissipado.
Dona de suas vontades, seu coração batia no ritmo de suas canções preferidas. Não escondia o riso, não escondia o canto que lhe saía involuntariamente.
Já não temia críticas, sabia ceder mas também sabia exigir, arriscava-se, atrevia-se, exprimia suas vontades, suas atitudes eram legítimas, vivia integralmente.
Seus passos, antes miúdos e tímidos, eram agora cheios de vida, como se exprimissem toda a sua essência, toda sua espontaneidade.
Já não era a garota sem graça, a garota invisível, a garota ''boazinha', que tudo aceita, que nada impõe. Olhava com estranha alegria para as pessoas que passavam.
Nada importava, nesse dia de quimeras suaves, ela se via no espelho, ela se habitava. Então, nesse doce intervalo de sonhos [pois fora justamente um sonho], ela estava segura de si, ela acreditava.
Mas, de repente, ela acordou pasma e pequena. E, no meio daquelas ruas, por entre pessoas [frias] de olhares [cruéis], ela alterou seus passos. Assumiu então, gestos miúdos, movimentos tímidos, numa tentativa de parecer invisível. O riso fácil deu lugar a um sorriso nublado, desbotado, sem juventude.
Teve uma impressão de vácuo. Ela já não se via em suas atitudes, já não era mais autêntica, já não exigia, apenas cedia, já não seguia seus próprios impulsos, já não vivia.
Envergonhada da sua própria existência, envergonhada por sua falta de essência, temia acender, temia apagar, queria sumir.

À você
[que é o amor que sempre sonhei ter]


Antes de mais nada, peço desculpas por essas letras meio trêmulas que te escrevo agora. Confesso que me causa um bocado de espanto só de imaginar o que você irá pensar ao ler essas linhas que seguem. Já posso quase advinhar a tua [provável] "cara" de interrogação e teu desinteresse em decifrar as palavras que me saem em traços miúdos.
Talvez eu te cause estranheza, talvez eu te provoque um delicado ar de impaciência. E é bem provável que você leia em passos ligeiros, na ânsia de chegar logo ao final, porque tudo que aqui exponho, só faz sentido para meu coração.
É que você sempre diz que eu devia me abrir com você, mas todas as minhas inúteis tentativas só serviram pra me provar a minha incapacidade de expor o que sinto [ou não]. Encare esta carta como mais uma de minhas tentativas, e espero que possa te causar algum impacto.
As vezes, nesses poucos instantes que temos juntos, eu passo chorando. É o que eu te ofereço em troca das tuas doces manifestações de carinho.
Você não entende as razões dos meus olhos úmidos que transbordam tempestades . E quando tento me conter eu me vejo mais frágil. Chorar faz parte do meu show, faz parte lamentar tudo o que não foi, tudo o que não é.
Não consigo explicar o que me causa essas lágrimas, não é tão fácil assim. Mas deixo aqui nessas linhas um pouquinho do que sinto, pois acredito que você mereça saber.
Confesso sentir um demasiado medo de tudo acabar como sempre. Um ponto final sem explicação depois de um texto não escrito. Sei lá, só tenho pavor de imaginar estórias que não acontecem, relacionamentos que não marcam e você se distanciando a cada dia por causa da minha incapacidade de demonstrar atenção.
Tenho medo do fim, do trágico final sem memórias, medo da impressão que eu deixo, das impressões que não deixo, medo do medo que sinto. Cada ponto final soa pra mim como um atestado da minha inutilidade, da minha incapacidade de criar vínculos, e acabo assim, depois das expectativas, sentindo-me uma decepção.
Vejo teu sorriso e isso me trás um misto de emoções, é como ver um anjo se aproximar, te estender a mão e isso te causar aflição. Você quer agarrar aquelas mãos que te chamam convidativas, mas tem medo. Medo do abandono, medo do porvir, medo daquele sorriso se desviar.
Você vê cores onde eu só vejo sombras e diz que vale a pena seguir de mãos dadas. Mas será? Tenho medo que seja só encanto e, que passe. (...)
Queria sorrir de manhã, e desenhar flores em forma de amor. Queria ser mais pra você, queria ser tudo o que não sou. Como posso eu acreditar num futuro ao seu lado, se o que eu te ofereço é apenas a monotonia de um chão frio e um sorriso vazio. Formulo tantas frases e acabo muda, tento colocar minha dança mais perfeita em prática, mas travo e me esforço para ser eu mesma mas meu eu teima em se esconder..
Sabe, eu tenho me esforçado bastante pra não deixar transparecer minha indignação diante da vida, e tento calar minhas angústias, mas assim mesmo suspiros inconformados me saem. Não queria que fosse assim, vejo nos teus olhos decepção ao constatar que teu amor não me faz diferença. Mas saiba que faz, só não consigo te fazer perceber.
Tudo isso me dói, tudo machuca. E deixa um vazio, o vazio que me causa essas lágrimas. São tantos impulsos contidos, que devo dizer, sinto mais a falta de mim que de você.
Sei que essas palavras podem te soar um pouco insensíveis, é fato. Mas, se você me deixar vai doer, sei que vai, mas dói mais essa falta que eu tenho de mim e que você não entende. Dói não deixar nada de mim.
Finalizando por aqui, para não me estender mais nestas linhas vazias, digo apenas que não são os pontos finais que me dóem. Dói mais a falta de essência no texto que antecede o fim, dói mais ser 'presença insignificante' quando na verdade se sonha em 'fazer a diferença'. Não quero mais viver de limitações, e choro a falta de mim nos meus dias, choro a falta do sorriso que guardo escondido, choro a minha meninice contida, a mesmisse dos dias que seguem, porque sou o que você não vê, sou o que não exponho.
Eu guardo meus vestidos coloridos e me ponho a vestir só de cinza, tudo por minha tendência [doentia] de temer reprovações, tudo por esse medo que me imobiliza, medo de não agradar, de ser insignificante, medo de incomodar.
Então essa falta de mim me enche de um amargo cruel e eu tento esconder os espinhos que tenho nas mãos.
Você sorri como anjo, eu só queria poder sorrir junto, um sorriso tão natural. Queria deixar marcas , não ser a sua decepção quando você descobrir que não sou a menina que você viu no início. Só não queria que tudo acabasse porque o encanto quebrou.

"Choro a falta de mim nos meus dias,
choro a ausência do meu riso espontâneo,
é por que isso choro, e você não entende".

Anah F.S.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Tanto medo me consome, e eu fico estática, fico imóvel. Tanto medo me retraí que já nem me encontro mais. É sempre um querer e não ser pra ser o que 'ditam'.
É cruel viver assim. Deixar seus pedaços pra se constituir de pedaços alheios, formando um inteiro vazio, um inteiro aos pedaços, partes que não encaixam. É como esconder o pulsar do coração, prender a respiração ofegante, para vestir pontos de vistas alheios, para seguir verdades que não preenchem.

“E eu, não tenho voz? Não posso decidir nada?”, perguntava-se.

Anah F.S.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

"Do que eu precisava te dizer"


Você me pede pra que eu prometa não te deixar. E a minha voz some antes que eu consiga falar. Então você fica assim, na minha frente, esperando uma resposta que não vem. Eu fico imóvel, e você não sabe a luta que travo aqui dentro, na inútil tentativa de te dizer. Enquanto você espera, ansioso, meus monstros gritam, eu me afundo no abismo e a distância entre nós já não é mais a mesma, é tão maior.
Porque eu complico tanto? Você só espera duas palavras minhas, "Eu prometo" e somente, simples assim. Mas tudo que eu consigo é fechar os olhos, prender a respiração, e ver minha voz se calar, e minha coragem travar.

Logo você repete o pedido, repete a pergunta: 'Você promete?'. O meu silêncio é mais forte, é tão desconfortante para mim, olhar nos teus olhos, que são doces, e me sentir invisível e vazia.
Eu tento criar coragem pra falar, mas um turbilhão de imagens e vozes atormentam minha mente, e me fazem lembrar quem eu sou, e tudo isso me faz perceber que promessas de amor não são válidas, quando somos apenas uma lacuna existencial. E chego a pensar se não seria egoísmo querer te envolver no meu mundinho fechado e vazio, sim seria egoísmo.

Então você me olha, então você me toca e logo você se afasta, te dói tanto os meus silêncios, eu sei disso, e acredite, isso faz doer ainda mais em mim. Tanto eu tenho para dizer, tanta coisa que eu queria que você soubesse, coisas minhas sabe. Mais não digo nada, nem as duas palavras que você espera agora.

Mais uma vez eu me esforço, mais uma vã tentativa, e agora você já desacredita de tudo, isso porque quem exita em dizer um simples "EU PROMETO", não deve mesmo desejar o "PRA SEMPRE".
E é isso que você queria, promessas de ser pra sempre, de ser infinito.

Você começa a me agredir então, agredir não agredindo, sabe. É agressão pra mim, porque dói ouvir você dizer que fui falsa o tempo todo, enquanto eu tô aqui travando uma luta angustiante pra arrancar de mim duas palavrinhas. Você não me entende e isso é agressão pra mim.

E essas tuas agressões machucam, sabia. Nesse instante, meus sentidos mudam e desejo que vá embora pra não mais voltar, tudo porque começo a perceber que te deixei aproximar demais e, você não iria entender e sei onde isso iria chegar. Ouvir você me dizendo que eu nunca te amei, quando eu quase me afogo pra gritar que te amo, sem resultado, é uma agressão, e começo a desistir de você nesse momento, começo a desistir do "Eu prometo", desistir do "Para sempre", mas sei que se você sair por aquela porta, eu vou te xingar, eu vou te amar e, vou me torturar, por tudo o que eu não sou capaz de fazer, tudo que eu não consigo dizer.
Mas, o que importa agora, é que você já não espera mais, você já está mais distante, prestes a ir embora deixando em mim um desespero angustiante, e ainda assim, calado. Nem para impedir você de ir embora, as palavras saem, nem essas nem outras, a mudez me toma, e você não entende mas sei como te machucam os meus vácuos, os meus silêncios.
Isso me faz sentir menor. Ver o teu olhar descontente, tua decepção estampada na cara e eu aqui, calada como se não desse a mínima importância para os teus sentimentos. Essa impotência me imobiliza ainda mais, me fragiliza mais, eu me sinto um lixo, um lixo que você não merece. E, fica aqui a angústia, "perdi o cara que tem medo de me perder, AQUELE QUE ME PEDE ANSIOSO PRA FALAR DUAS PALAVRINHAS só pra se sentir um pouco mais tranqüilo de que não vou deixá-lo."


"Se pudesse entender os meus [amargos] silêncios,
notaria o sangue que derramo calada.
E [talvez] compreenderia que por trás dessa aparente indiferença,
eu carrego um turbilhão de sentimentos contidos"
A.F.S

Único Refúgio


"Porque se estas [palavras] se calassem eu não mais sobreviveria"



... A essência que me falta, está naquele abraço, naquele passo que não dei ...

Anah.F.S