quarta-feira, 30 de setembro de 2009


Mania essa que as pessoas têm

Dia desses minha maninha veio mostrar desenho bonito que fez, e nosso pai pareceu nem se importar. Pouco depois, ela veio com outro desenho. Seus olhos brilhantes de orgulho se desmancharam em lágrimas quando ele resmungou não ter tempo pra coisas tolas.
"Papai é um ho
mem sério, e homens sérios são muito ocupados pra perderem tempo com coisas sem importância", ela me disse.
Pensei então: "mania essa que as pessoas têm de andar sempre apressadas". Não consigo entender porque correm tanto em busca de vida melhor se acabam por perder o melhor da vida.

Outro dia maninha
trouxe o boletim da escola. E apressado, nosso pai viu num estalo as notas vermelhas. A melhor aluna da sala agora tinha em mãos um boletim colorido. Então a professora queria perguntar o que estava acontecendo na reunião com os pais. Mas nem um dos dois estiveram presentes. Estavam muito ocupados com assuntos sérios.
Então criticaram maninha e a deixaram de castigo. Mania essa que as pessoas têm de só criticar. Já não se tem mais tempo pra elogios. Estão todos muito ocupados com coisas sérias.
E eu?
Maninha me sorriu um dia desses, mas nem lhe dei atenção.
Também estou muito ocupada com coisas sérias. Herança maldita essa que herdei de papai e mamãe, essa mania de andar sempre com pressa. E me parece que não é mal de família. Esse mal já impregnou todo o planeta. Nota-se pela superficialidade das relações, pela frieza de um "bom dia" trocado. Gente que se esbarra nessa multidão acelerada e nem sequer se nota. Gente que, por vezes, se pisa e nem se importa. Gente que se estranha por motivos fúteis.
Tanta gente que deixou a alegria de lado e nem se deu conta e que, ainda assim, aplaude de pé esse mundo de posses. Mundo vazio, visões corrompidas. Gente que corre e nem sabe onde vai. Tanta gente perdida nessa rotina corrida.
Mas tá todo mundo muito ocupado pra perceber que andar sempre com pressa é perder-se. Abraços e beijos ficaram esquecidos nesse mundo que anda às pressas. Já não há mais tempo pra afetos. Estes ficaram perdidos entre os atropelos da vida. É a geração de crianças carentes apesar de morarem com os pais.
Anah F.S.

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